"O
que mais dói não é – desengana-te – a infelicidade. A infelicidade dói.
Magoa. Martiriza. É intensa; faz gritar, sofrer, saltar, chorar. Mas a
infelicidade não é o que mais dói. A infelicidade é infeliz – mas não é o
que mais dói.
O que mais dói é a subfelicidade. A felicidade mais
ou menos, a felicidade que não se faz felicidade, que fica sempre a meio
de se ser. A quase felicidade. A subfelicidade não magoa – vai
magoando; a subfelicidade não martiriza – vai martirizando.
Não é intensa – mas é imensa; faz gritar, sofrer, saltar, chorar – mas
em silêncio, em surdina, em anonimato. Como se não fosse. Mas é: a
subfelicidade é. A subfelicidade faz-te ficar refém do que tens – mas
nem assim te impede de te sentires apeado do que não tens e gostarias de
ter. Do que está ali, sempre ali, sempre à mão de semear – e que, mesmo
assim, nunca consegues tocar. A subfelicidade é o piso -1 da
felicidade. E não há elevador algum que te leve a subir de piso. Tens de
ser tu a pegar nas tuas perninhas e a subir as escadas. Anda daí."
PedroChagasFreitas