"Falar sem aspas, amar sem interrogações, sonhar com reticências, viver e ponto final."

quarta-feira, 30 de maio de 2012




Todas as manhãs, bem cedinho passa uma rapariga para a paragem do autocarro, de mochila às costas, ainda um bocado a dormir, de braços cruzados e olhos voltados para o chão.
A paragem localiza-se ao fundo da rua e ela passa sempre cinco minutos antes do autocarro chegar e, por norma, quando lá chega já está lá alguma gente, gente jovem, da mesma classe etária.
Quando começa a ouvir a buzina da camioneta a rapariga olha para o relógio então faltam os habituais dois minutos para que essa mesma chegue à paragem onde está a rapariga, e nesses dois minutos acontece que ela olha para o cimo da rua e vê o ‘famoso’ vizinho a sair de casa, a apertar a camisa e a arranjar as calças, enquanto espera que a mãe tire o carro da garagem o que é, normalmente, muito rápido. Entretanto o carro começa a descer a rua, em direção á paragem e quando passa os olhares cruzam-se, nunca sabendo o que aquilo é, sabendo só que a partir dali vão andar em direções contrárias, vão de costas voltadas um para o outro. Depois de se verem a distanciar cada vez mais, sempre em direções contrárias só amanhã é que se voltam a ver, só amanhã é que vão ter a certeza de que ambos regressaram, ambos voltaram, independentemente de se verem partir todos os dias, de se separarem sempre da mesma maneira.
O melhor de tudo é que esse olhar é o que os acorda todas as manhãs, é o que faz com que o dia deles comece, sempre de uma maneira suave, diferente mas, muito provavelmente, a melhor de todas.

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