"Falar sem aspas, amar sem interrogações, sonhar com reticências, viver e ponto final."

quarta-feira, 14 de março de 2012


Para quê fazermos planos, se quando chega o momento é tudo diferente?
Eu gostava de acreditar que vai ser assim, exatamente como eu pensei. A imagem igualzinha á que eu criei mentalmente, mas não. isso na verdade não acontece. Pode até ser melhor, pode ser idêntico, mas igual não é.
Naquela tarde aquela era a única rapariga sentada naquele banco de jardim. Á volta só se encontravam os velhos do costume, já como se estivessem em casa. Viam-se as crianças no parque e os pais, geralmente, novos a dar-lhes lanço no baloiço, a empurra-los no escorrega e outros a tirarem fotos.
Embora a rapariga já estivesse habituada a passar por ali, a passear aquelas ruas todas não estava minimamente confortável. Estava sozinha, ali, sentada e não sabia o que fazer, nem sequer onde meter as mãos, para onde olhar ou fazer o quê.
Por incrível que pareça tudo aquilo era estranho, até aquele centro se tornou diferente naqueles curtos minutos. Foi possível ver aquele sítio com outros olhos, e perceber que realmente estar sozinho não vale de nada.
O sol era quente demais e a sombra era um bocado fria. Não se estava bem de maneira alguma, e o facto de estar ali sozinha ainda tornava tudo mais incomodo. No momento pensou em tirar o caderno e começar a escrever, mas pensou que aí as coisas se calhar se tornassem ainda mais estranhas ou mais fora do normal, então pensou em arrancar de dentro da mochila o livro e começar a rever a matéria para o teste do dia a seguir, mas na verdade acabou por não optar por nenhuma.
Foi difícil naquele momento tomar uma decisão. Não parava quieta um bocadinho, ou mexia uma perna, ou um pé, ou a mão e tirava sempre o telemóvel do bolso mais pequeno da mochila para ver se alguém se lembrava de falar, e também para disfarçar um bocado e tentar fugir, de certa forma, á situação ‘parva’ pela qual estava a passar.
Aos olhos de qualquer pessoa que por ela passavam talvez fosse normal. Na verdade os homens só olhavam para as pernas e as mulheres apreciavam o vestido.
Não é hábito andar de vestido e sair daquela forma á rua, pelo menos a um dia da semana, para mais um dia de aulas. Um dia completamente normal.
A ideia não era de todo chamar á atenção, mas parecia que era isso que estava a acontecer.
Basicamente qualquer pessoa olhava, ou pela complexidade com que, aparentemente, mostrava estar ou pelo simples facto de estar ali, sozinha, aquela hora. Por norma uma hora em que uma maioria se encontra em aulas.
Os olhos de quem, para ela, olhava pareciam fazer, de uma maneira subentendida, a pergunta: “o que faz uma rapariga, aqui, assim?”
Era tudo demasiado estranho para entender e ainda pior para explicar.
A verdade é que só estou a conseguir contar este «episódio», mas não consigo dizer o sentimento que me corria pelo corpo naquele momento, o que os meus olhos viam nem dizer o que estava ali a acontecer e a fazer. Sim, a rapariga era eu, e podem acreditar esta foi uma sensação particularmente estranha, e difícil mas passou, tal como tudo.

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